sábado, 24 de outubro de 2009

VERDE

foto MV

Sempre as palavras a viverem dentro da cerca
quase secas, quase esquecidas

Pedem aos dedos que as exortem
a desbravarem-se em colinas de afecto

Aspiram libertar odores da lua
inflamar o ar em que se propagam
desvendar o mistério dos passos com que dançam

Mas o seu perfume fica sempre inatingível

Se as palavras não soletrassem na gaguez
se fossem capazes de tocar a tua alma
o verde em mim funcionaria

MV


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

PARADOXOS

Foto do blogue SOANTES
http://soantes.blogspot.com


Por detrás das cortinas
olhar dissimulado
ao passar das horas mudas.
Agitadas.
Longas.

Estendendo o tempo
quase ao limite da ruptura.

Horas de há muitos dias
inscritas nas paredes
sufocadas de ilusão.
Inscritas nos mosaicos amassados
pelo acotovelar do riso da vespa
e da lágrima da borboleta.
Inscritas no tecto
a coalhar instantes
de tudo e de nada
de luar e de escuro.

MV

sábado, 3 de outubro de 2009

INTERPRETAÇÃO


Sempre o amor se escreveu em textos.

Com verbos presentes, futuros ou passados
palavras que acordam a rir em cada instante
ou adormecidas com os olhos cansados.

Com advérbios de lugar e de tempo
onde o amor espreita por frestas embriagadas
ou à noite se deita em lençóis de lamento.

Com substantivos concretos e abstractos
em palavras de nítida caligrafia
ou em palavras que falam a língua dos astros.

Com adjectivos perto ou longe do coração
para qualificarem as inúmeras palavras
que enchem o côncavo da mão.

E assim o amor se compõe em textos
tão gramaticalmente correctos.

E revista a pontuação
acontece uma e outra leitura
a que não conseguimos dar interpretação.

MV