quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MEMÓRIAS




Por entre as nesgas do tempo

desfiam-se-me recordações

presas aos olhares da infância.


O amarelo das acácias em flor

avivando a luz modorrenta da tarde.

O ar mesclado de odores em contradição

sujando palavras- hoje - já apagadas.

Em tiras de papel

rabiscos de paixões inócuas

guardadas no canto das cigarras.

Palavras e mais palavras escritas

paridas do abecedário feito a carvão.

Águas lisas, marés vivas,

tempestades afundando embarcações.

Enxertos de roseiras bravas

podas de videiras em germinação.


Memórias em olhar de criança

sonhos presos na palma da mão.


MV



terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MAIS UM ... DESAFIO




Américo da Conceição, do blogue Recordações, lançou-me um desafio que aceitei com prazer, porque pode ser uma forma de partilharmos nomes de livros que já nos acariciaram ou, simplesmente, nome de livros já lidos ou por ler. Este desafio deve respeitar apenas duas regras:

1. Abrir um livro ao acaso na página 161, ir até à linha 5 e colocar essa frase no blog
2. Passar para outros bloguistas

Peço desculpa ao Américo e a quem teve a iniciativa deste desafio, mas não cumpri integralmente a 1.ª regra, porque o primeiro livro que abri tinha número de páginas inferior a 161 ( A Sonata de Kreutzer), o segundo que abri nessa página continha o título do capítulo (O Último Voo do Flamingo). À terceira foi de vez, mas como não entendi bem o pedido, optei por copiar a frase que passava na 5.ª linha dessa página.

TÍTULO DO LIVRO:
A Anã do Czar, de Peter H. Fogtdal

Na página 161, podemos ler na 5.ª linha: " Humedece-lhe os lábios com uma esponja e faz um gesto com a cabeça a dois monges que estão prontos com o chicote. "

Os blogs que desafio, desta vez, são:

Tentativs Poemáticas

Acervo da Alma

Artista Maldito

Universos Questionáveis

O vento contra a cara

InventO

Digo eu

MV


quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

FALTAM-ME...



Faltam-me as mãos
para escrever nos versos
a sombra dos sonhos
que falam alto à luz da madrugada.
Faltam-me os olhos
para ver a cor fogo do entardecer
nos contornos (im)precisos desse olhar.
Faltam-me os passos
para vaguear nos rios que me atravessam
em rotas de mel e cravo.
Faltam-me os fios
para consertar as velas do navio
na poeira do tempo por desbravar.
Falta-me a lua cheia
grávida de tanto branco
para pintar em cor de açucena
os golpes descuidados que faço.
Em recolha de rios no leito
silencio esta loucura
que retenho no peito.


MV

sábado, 17 de janeiro de 2009

JANELAS COM VIDAS POR CONTAR




Mãos ásperas de gotículas de suor
assentaram-na perfeita na parede austera.
O vento de brusquidão nas mãos
arrebatou-lhe a cortina de chita
O sol em feixes de fogo
desbotou-lhe a cor framboesa
As torrentes de água invernais
empenaram-lhe a madeira secular
fizeram-na gemer nos gestos de abrir e fechar
O tempo na sua vaidade frívola
foi-a coçando
carregando-a de histórias de amor
paixão em fogo, dores em flagelo.
Hoje, aos olhares furtivos
é apenas janela com vidas por contar.

MV

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

HISTÓRIAS DE QUALQUER UM




Na ânsia de viver por linha bem traçadas
afinamos as mãos
pegamos no estirador
esboçamos a planta da vida desejada
e em alicerces bem construídos
caminhamos sobre a senda desenhada.
Mas… um dia
derrubam-se os alicerces da paz
interrogações eclodem no peito
na boca nascem palavras atadas
nas mãos gestos contidos
e os traços da planta da vida
assim vão ficando esquecidos.
A vida desarruma-se em dias cansados
emaranha-se em sonhos malfadados.
Avisa a fala do tempo para voltarmos atrás
rebuscarmos dentro de nós
nos recantos mais recônditos
mas encontrar ou redesenhar a planta da vida
já ninguém é capaz.
MV

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

EUTANÁSIA DE PALAVRAS


Agonizo num leito de palavras por apagar.

Leito feito de lençóis de pano

do mais fino cetim

onde já matei em corrupio,

a semântica das tuas palavras

mortas, ausentes de mim.

De forças já desfalecidas

Teimo em apagar a sua grafia.

Sinto a premonição de que o dia está a chegar.

Urge redigir em testamento:

“Quando a grafia das tuas palavras apagar

quero ser morta de ti

mesmo que a “eutanásia” se tenha que praticar.”


MV


quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

TRANÇAS DE MIM



www.flickr.com


Com pente de dentes de aço

faço e desfaço tranças de mim

mas o cabelo fica-me despentado

em alvoroço, nos sonhos que traço.

MV

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

AGRADECIMENTO AO SOL


Palavras para alguém que hoje sente a saudade de uma pessoa que lhe era e é muita querida.



Fresca a brisa na manhã
sem tutela, nem dono.
Raia o sol, mansamente,
nos primeiros acordes matinais
e diz BOM DIA!
Às árvores que se desaprumam
em vénias de agradecimento;
às casas que anseiam cavar risos
em terra revoltada;
às portas que rangem
no silêncio do bairro a acordar;
às janelas com ensejo
de sorverem a luz matinal.
Depois… num espreguiçar apressado
tudo responde:
Obrigado Sol
pela maternidade de mais um dia!

MV

domingo, 4 de janeiro de 2009

FRAGMENTOS


(www.flickr.com)



Grãos de areia resplandecentes

arrastados em fúria pelo vento

por tangos quentes e intensos

pela água buliçosa do rio

em sonatas clássicas

chegam à cascata memorável

de onde brotam fragmentos de vida.



Fragmentos para frAgMenTUS


MV

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

RENASCER


Caía a noite ávida de chegar

Estilhaçava-se o sossego em que me deitava

Paravam os voos de borboletas

onde ao entardecer eu esvoaçava

Telas recobriam-se de tintas

que o tempo, sem dó, apagava

Acendiam-se chamas fosforescentes

em florestas virgens de mãos.

Paravam as melodias silvestres

brotadas do rumorejar das fontes.

E em cachos abundantes

nasciam vogais e consoantes

em fabrico de novas palavras.


MV