Deixa sair das nuvens uma água
que te molhe a pele
e te abra os poros
para que deles saiam remorsos
do que ainda nem sequer fizeste.
Deixa passar a água do mar
sobretudo se ela vier em ondas
para te levar as incertezas
do que pode ou não acontecer amanhã.
Deixa atear o lume
e permite-lhe que queime o lacre do preconceito
que te fecha o coração.
O coração quer-se solto que nem ave de campo.
Deixa escancarar as portas da mansão
onde te habituaste a cristalizar receios
que te atacam, tal garras de fera.
Deixa rebolar nos seios
o desejo do beijo, da carícia, da língua.
Fecha os olhos se não queres ver,
mas deixa.
Deixa que o óbvio se torne não óbvio,
se isto ou aquilo ainda não aconteceu.
Deixa que tudo isto aconteça
e deixa que aconteça muito mais.
Deixa-te levar no voo do pardal,
mesmo que te canses
mesmo que adormeças.
O pardal voa sem medo
mesmo que tenha de suspender o voo
ao aviso do espanta-pardais.
Acredita, será fugaz esse momento.
É que o medo não deixa viver.
MV