terça-feira, 30 de dezembro de 2008

NOVO ANO


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Todos queremos dobrar
a esquina do vento
para secarmos rajadas de angústia
nascidas de sonhos que ficaram por acontecer
em cada noite, em cada madrugada.
Todos queremos um novo dobre de sino
que toque em galope desenfreado
árias de alegria em cada alvorada.

Todos queremos consertar as velas do barco
e navegar por trilhos desenhados
com novas cartas de marear.
Todos queremos fazer da vida
um alvoroço de alegres tons
talhados em esboço de constante dançar.

Todos queremos apagar rugidos gritados
em vielas silenciosas de desilusão
pegar nos fragmentos de vida
que um dia se escaparam da mão.

Todos queremos dobrar a esquina do vento
para lançar à vida sementes de magia
e construir assim um novo ano
colhendo e bebendo brisas de alegria.

PARA O NOVO ANO, DESEJO A TODOS QUE COLHAM E BEBAM
BRISAS DE ALEGRIA

MV

domingo, 28 de dezembro de 2008

PALAVRAS DE VELUDO


Recados Para Orkut


São palavras de veludo

doces fragrâncias enamoradas

cosidas letra a letra com fios de seda.


Secam-nos as lágrimas de sal

e plantam-nos flores no peito.


Abrandam as águas agitadas

dos sonhos das vidas cansadas.


Apagam-nos os gritos lancinantes

entre movimentos de flagelo.


Pousam sorrisos no regaço

beijam-nos com sabores perturbados.


Afagam-nos o corpo

refulgindo em orlas doiradas.


MV

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

MÃO DE PALAVRAS


Acordo com uma mão de palavras

a tocarem-me os olhos

preguiçosos no despertar

como se eco de sino

me estivesse a embalar.

Desprende-se das nuvens uma gota

num brilho de bola de sabão.

Traz palavras e sinais íntimos

que recolho em cálice de mãos.

Apago a luz tímida do sol

e soletro-as na intimidade.

Saciam-me na cor da papoila

com que vêm pintadas

e reacendem a luz do sol.

Abro os olhos ao dia

e em sorrisos de festa

brindo com taças de alegria.

Avento o cinzento ao ar

e num frenesim de loucura

deixo o corpo dançar.


MV

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL



Abraço um vento de palavras

que me limpam o olhar.

Chamo depressa pelas mãos

na ânsia de as partilhar.

Alvas, de branco a transpirar

enovelo-as com força sideral

pego na minha concha de mar

rodo o farol até anunciar:

UM FELIZ NATAL


MV

sábado, 13 de dezembro de 2008

TRANSPLANTE


Por instantes pára a vida
e tudo morre em lentidão
Engrossa a seiva dos troncos
em dor de coágulos inevitáveis
Os acordes do rio abrandam
nas cordas vocais já cansadas
Esconde-se o cantar da natureza
em fuligem de nuvens imparáveis
Retraem-se as palavras do meu poema
adormecendo cancerígenas
em mares de letras inseparáveis
O sangue percorre-me as veias
já então muito saturadas
dos gritos ásperos e mudos
gritados no silêncio das noites desesperadas
Rasgo sentimentos com bisturi
na ânsia louca de os transplantar
O tempo vai correndo na sua lentidão
e eu já parca de vida
não encontro dador compatível
com tamanha força de amar.


MV

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

PALAVRAS DE COR SÉPIA


Ordeno-te vento

que rujas em palavras de cor sépia.


Ordeno-te mar que te revolvas

e afundes as palavras

apeadas de falsos cruzeiros.

Ordeno-te ferrão de vespa

que sigas em voo rápido

e ferres com teu veneno

as palavras assinaladas.

Ordeno-te fogueira em crepitação

que alteies o vigor da tua chama

e queimes a lenha podre

das palavras que te ateiam.

Ordeno-te tesoura de lâmina afiada

que cortes com fúria

sílaba a sílaba,

todas as palavras.


Na vaga mais alta que o mar pariu

instala-se um cemitério de palavras de cor sépia.


MV