Batia a noite com fúria nas pedras ainda febris do calor do ardente do sol. A cidade fechava-lhe a porta, indiferente ao encanto e às promessas que trazia agarradas aos primeiros fios nocturnos.
Queria proteger-se dos vadios que parecem não o ser, dos olhares das “feras” que atacam pela calada, das crianças apavoradas no silêncio cheio de palavras medonhas, dos sonhos que mitigam a tranquilidade logo à primeira luz da manhã… Assim, a noite não podia entrar.
Que engano!... Na calada do dia, num jogo de escondidas, tudo acontece: ladrões de palavras, de afectos, de lugares, de sentidos; feras adormecidas sem o chicote do amestrador vadio, medo do que se foi ou daquilo que se quer ser, sonhos loucos a atingir o êxtase da quase realidade.
Então que venha a noite. Abram-lhe a porta. Deixem-na entrar. Deixem-na roubar, deixem-na enfurecer, deixem-na atacar, deixem-na sonhar.
Eu quero estar na noite.
MV
1 comentário:
Obrigado pela visita à minha humilde casinha.
Gostei deste texto. Muito bem conseguido, talvez...na calada da noite.
Um beijo de carinho*
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